quarta-feira, 31 de julho de 2013

A ostra Otra


Era uma vez, um molusco, mais especificamente uma ostra, mais especificamente ainda duas valvas, envoltas num ligamento elástico e cobertas por um manto mágico.

Certo dia um intruso se aproxima do que tinham de mais sagrado, a união. E para defender-se aciona seu manto que imediatamente aprisiona o intruso com madrepérola, formando uma jóia mais valorizada pelos humanos do que no mundo marinho.

Acontece que o que os humanos chamam de jóia é motivo de grande dor e sofrimento no mundo marinho, especificamente para os moluscos e nesse caso específico para a Ostra Otra.

Otra era uma ostra feliz, vivia há anos nas profundezas do mar e era reconhecida por não deixar que seres estranhos adentrasse seu interior. Era muito comum ouvi-la dizer para seus amigos ‘posso ensiná-lo a se proteger, mas não te proteger, pois cada um deve fazer por si’. E assim corria os dias, meses e anos, sem que Otra fosse atingida por qualquer fator externo. Suas amigas embora a ouvissem, não a escutavam e por vezes diziam ‘como você saberá se não experimentar?’ ‘Será que proteger-se é esconder-se?’ ‘Não viver o que as coisas do mar querem ensinar, não seria uma afronta ao intempestivo Poseidon?’

Certo dia refletia, aliás, pela primeira vez, sobre o que suas amigas cansavam de falar. ‘E se elas tiverem razão?’ ‘Como saberei a hora de me abrir? ‘Será que um dia vou me abrir de verdade?’ E num ímpeto forte, sentiu esvaziar-se, de um jeito que nunca havia sentindo. Como se uma sensação de dor e prazer a preenchesse. Ao mesmo tempo em que se esforçava para afastar-se da dor, um súbito prazer a preenchia. Num estado de êxtase percebeu que não estava só e que dentro de si crescia o objeto de todo aquele prazer... dor... prazer!

Pensou ‘como poderia sentir sensações tão díspares e complementares ao mesmo tempo?’ ‘É impossível?’. E naquele momento acordou de um sonho, que percebeu, arrebatador e escolheu viver na sua comunidade, partilhando de sensações intrínsecas as ostras produtivas.
 
por Rosemeire Benedita da Silva

 

 

Bioluminescência


Em uma floresta muito distante daqui vivia um Vagalume, que com sua luz iluminava o caminho de todos. Era tão forte sua luz que sua parceira por vezes sentia-se ofuscada. Embora entendesse que essa era a natureza de seu parceiro, a Srª. Vagalume enchia-se de luz, ali parada para ser encontrada, sentia-se só.
Seu parceiro há séculos para não deixar a comunidade entrar em extinção, vagava por toda floresta a procura de reprodutoras. Assim que sua missão acabava voltava a sua antiga, mas revigorante morada.
No entanto certo dia a Srª. Vagalume cansada de esperar que seu altivo parceiro voltasse, resolveu também vagar pela imensidão da floresta. No entanto ela não tinha a experiência de horas de voo que seu parceiro tinha e tão logo isso descobriu, percebeu também que era de sua natureza brilhar... mas de um jeito diferente.
Ir contra a natureza lhe mostrou que poderia sim fazer o que quisesse, no entanto deveria também arcar com os resultados dessa sua aventura. Não que ela tivesse medo, ou rancor... mas essa jornada lhe provou que sua bioluminescência tem tanto poder quanto de seu parceiro! E que não importava ficar ou viajar, ambos faziam a Natureza permanecer bela e reluzente!

 
Por Rosemeire Benedita da Silva


terça-feira, 30 de julho de 2013

Qual é a sua grandeza?



Em umas das suas caminhadas, Mestre e Discípulo param e numa manobra gigantesca, erguem-se para o alto lentamente e observam tamanha é a sua grandeza e magnitude...

Discípulo diz: Mestre, como pode ser tão bela e se manter tão firme por longos anos?

Mestre vira-se e em sua sabedoria, responde: Ao longo dos anos passamos por diversas experiências, mudanças, boas e ruins, e temos a incumbência de levar conosco aquilo que aprendemos e assim evoluímos...

“A transformação só acontece quando agimos no campo das possibilidades, e é assim que se sustenta exatamente quem você É”.

E mais uma vez o Discípulo: “Mestre, sem essa base, nada sobreviverá”.

O Mestre: “Algumas param por aí, e esperam a melhor chuva, o sol mais forte e ficam paralisadas esperando pelo melhor tempo... Poucas estão prontas para a verdadeira transformação...”



E enquanto há árvore, há uma chance...

Aquela frase ficou ecoando na mente do discípulo...enquanto contemplava a magnitude e o tamanho da sua beleza...

O Mestre desperta ainda mais a curiosidade do discípulo: Se permitires perceber, as grandes mudanças acontecem de dentro pra fora e quanto tempo é preciso para que o extraordinário germine, cresça, evolua e se mostre evidente como ele É?

Qual é a real força que faz mudar?

O curioso discípulo: É quando criamos uma visão tão grande daquilo que o nosso coração realmente deseja transformar...

Ainda sob as palavras do Mestre...

Só é possível quando a partir disso o grande monumento resplandece, tornando-se evidente e forte o suficiente para sustentar tamanha estrutura...

Assim determina a sua grandeza...

Na dúvida, o discípulo: E quando se está pronto?

Quando aquilo que se transformou internamente, vem ao mundo para florescer...

“Somente assim se vê aquilo que no fundo já o É!”

Discípulo: Por isso algumas florescem cedo, outras tarde, algumas rápido demais, outros nem tanto...e outras jamais...

“E quando se desconecta da sua verdadeira raiz, ela simplesmente seca...”

Mestre alerta: Perceba tamanho são seus galhos...firmes são suas copas...

Conseguem juntos ocuparem espaços diferentes, em cima da mesma estrutura...algumas vezes servem de abrigo para os pássaros...

E se olhares mais profundamente perceberá que uns se escondem atrás dos outros e somente quando realmente observamos percebemos a sua existência...

E cada um ali tem a sua função, sem isso não há sustentação...

Se perceberes mais um pouco, verás que alguns destes galhos conseguem obter outros galhos em sua estrutura, chamamos isso de reprodução...

Daquilo que eu sou transformo outro...

Alguns conseguem chegar mais perto do sol, sabem aproveitar a força da luz, se nutrem da chuva, absorvem o pior dos ares, mas são estes que mais fortes são, são os mais corajosos, pois dali é exigido uma outra transformação...

Só chega ali quem já está pronto...

Quando se percorre todo esse caminho desde a sua raiz, na sustentação da sua estrutura, abre-se o campo das possibilidades, enfrentam-se os maiores desafios da natureza, percorrem-se todos os galhos, se unindo e incentivando uns aos outros, contribuindo para o abrigo de outros animais, para assim se chegar ao topo e é preciso estar certo de que o próximo passo é o seu fruto...

“Aquilo que te Ti sai, alimenta o outro...”

Muitos desistem por ali, enfraquecem e secam...permanece por anos assim...sem forças...

“Só é permitido doar ao outro aquilo que já tem em Si”

...E enquanto há uma árvore, há uma chance...

E onde está a sua própria Grandeza?
 
Por Juliana Monteiro

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A missão

Certa noite nas esferas celestes, os guardiões convocaram uma legião de anjos. Aquelas figuras imaculadas do maior grau de pureza e bondade foram se juntando num grande espaço repleto de luz, tocando uma doce música ao fundo que harmonizava todo o ambiente que parecia com um grande e belo jardim florido. Dentro de um pequeno espaço de tempo o ambiente já estava tomado pelos querubins, todos confabulando e curiosos pelas novidades reservadas pelos guardiões celestes. Volitando por aquele imenso jardim, as figuras angelicais com suas características individuais e diferentes dons traziam suas personalidades pessoais e curiosas, anjos fraternais, operantes da guarda dos humanos, do amor entre os seres, da proteção das crianças, das deficiências da saúde humana, os intuitivos nas artes entre outros. E de acordo com seu perfil os anjos também tinham suas características pessoais: os mais tímidos, os mais divertidos, os mais apressados, os mais cuidadosos, etc. 
Os anjos de guarda, muitas vezes tinham que agir com rapidez, conforme o pedido emanado da Terra por algum ser humano em apuros. Os intuitivos passavam meses direcionando energia para os mais diferentes artistas humanos, espelhando sensibilidade e beleza. 
Depois de divulgado os direcionamentos dos guardiões e algumas novas designações para o grupo angelical, certo anjo de longos cabelos castanhos semi-encaracolados, sorriso imenso no rosto, olhos brilhantes, muito habituado em suas missões terrestres de proteção, recebeu uma nova missão emergencial, deveria socorrer a uma bela jovem humana que se via numa situação angustiada e de aflição. A bela jovem que ocupava uma determinada função material se via clamando pela ajuda celeste para suportá-la nas decisões rápidas, necessária para suas funções terrenas. 
O anjo instantaneamente posicionou-se ao lado da jovem para acompanha-la e guia-la na situação que estivesse ao seu alcance. Para inspirar a jovem naquilo que se acreditaria ser sua intuição humana. Aos poucos o bondoso anjo emitia sua luz sobre a jovem, amenizando sua angústia e intuindo suas ações para lidar com as situações mais diversas do seu dia-a-dia. 
O anjo percebendo a ansiedade da jovem em reagir à diversidade que era exposta no mais breve possível, rogava para que respirasse, ouvisse quem estava ao seu redor e baseada em sua experiência tomasse a decisão mais correta para amenizar sua angústia. Como num âmbito de polaridade, o anjo intuía a jovem a entender seu próprio potencial, a parar, questionar para ter tempo de entender como reagir. Administrar a ansiedade ouvindo mais para tomar sua decisão, a fazer os devidos questionamentos para entender a expectativa do ambiente e então contribuir com sua resposta às situações que a cercavam. Assim o querubim se tornou um grande companheiro da jovem, suportando-a nas aflições, decisões que aos poucos foram acontecendo naturalmente. 
A jovem passou a ouvir sua própria intuição, controlando a calma, na harmonia, sem mais necessitar da inspiração angelical. Aos poucos o belo anjo retornou às esferas divinas, pois a jovem já abastecida das inspirações celestes dominava seu coração, sua mente, sua própria intuição, mantendo o equilíbrio necessário para compilar suas ações de forma premeditada.

Maurício Martins


Aerolin e o líquido secreto


  • Era uma vez em um país bem distante, vivia um pequeno povo chamado Proneurolins. Eles eram pacíficos, mas eram afligidos pelos Bruneurolins, que faziam muitas maldades e escravizavam os pacíficos Proneurolins. Um dia o pequeno Aerolin diante de tantas injustiças resolveu ajudar seu povo a se libertar, com coragem bolou um plano infalível, ele precisava fazer com que todos os Bruneurolins bebessem o líquido secreto chamado Qualinvi. Mas para isso precisava enfrentar diversos desafios. 
    Em uma noite estrelada Aerolin, procurando uma saída encontrou a passagem secreta, a qual ninguém jamais havia passado, pois ela somente seria aberta por alguém de coração puro, coragem e paz. Com esses poderes Aerolin conseguiu abrir a passagem secreta e foi em busca do líquido secreto Qualinvi. 
    Em sua busca enfrentou alguns desafios como o dragão Lock, guardião do líquido secreto. Para vencê-lo Aerolin precisava de uma boa dose de coragem. Após uma longa batalha finalmente o venceu e conseguiu pegar o líquido Qualinvi. Agora o desafio era fazer com que todos os Bruneurolins tomassem o líquido secreto. Após pensar, pensar e pensar Aerolin teve uma excelente ideia, jogar o líquido na fonte de água da cidade. Assim como o suco de uva após fermentar se torna vinho, a água da cidade se tornou uma grande fonte do líquido secreto. Aos poucos todos os Bruneurolins foram infectados e se tornaram mais mansos, mais amáveis, mais pacíficos e assim libertaram os Proneurolins. 
    Todos, sem exceção, viveram juntos felizes, graças ao Aerolin que se tornou rei na terra distante, dos mansos, amorosos e agradáveis.

O mercador de sonhos

Das tantas foto memórias que carrego na mente e no coração, uma se destaca. É uma foto que encontrei tempos atrás, perdida em meu baú de lembranças. Ao passar o dedo para retirar a poeira me assustei. É a imagem de um rosto conhecido, que me acalenta e faz vibrar, mas que também me confunde...talvez pelo brilho que me cega, ou pela nitidez que me espanta.

Quem sabe até seja pela sensação de proximidade que me traz. Intrigada com a situação trato logo de pegar meu cobertor rosa choque, uma caneca de café e me sento no chão de madeira. Raios de sol espiam pelas frestas da janela, talvez curiosos em saber de quem é o rosto na fotografia.

Alguns goles quentes de café, eu olho fixamente para a foto e o batizo de mercador de sonhos. Uma alma leve e serena que me conduz no ritmo cadenciado de suas asas. Uma saudade doce de algo que ainda não vivi, não conheço ou não me lembro, e uma certeza de eternidade que me faz muito feliz.

Pisco uma ou duas vezes...o sol se foi e o vento uiva pelas frestas da janela. Olho para minhas mãos...onde está a foto? Talvez tenha sonhado, talvez ele seja apenas a melhor parte de mim...hoje eu escolho acreditar que ele está por ai....vendendo sonhos.



segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Ermitão e sua concha

Era uma vez Mike. Mike é um ermitão e vive no fundo do mar. Mike tem uma família grande e tradicional e sempre foi respeitado por todos. Mike é um ermitão descontraído, extrovertido, porém ultimamente ele anda aflito com coisas que antes não faziam tanta diferença.
Todos ao redor sentiam isto, porém como sempre foi respeitado todos tinham medo de lhe falar pois não sabiam qual seria sua reação. Será que viria mais uma explosão, ou melhor, mais um excesso de raiva?
E todos deixavam as crises de Mike de lado e continuavam a seguir com suas vidas.
E Mike não estava feliz, sentia-se culpado e não sabia o que fazer para ser aquele ermitão que tolerava pontos e quaisquer outros pontos.
Um dia não aguentou, o excesso de emoção veio à tona, todos ao seu redor ficaram tristes e lá no fundo da casa o seu netinho grita: “Vovô, há muito quero lhe falar, pois com suas emoções não sei lidar.”
Mike olha para o netinho, abaixa e diz: “Diga o que eu posso fazer.”
O netinho olha bem em seus olhos e diz: “Vovô, a concha que carrega é pesada demais, e observei que como a minha é pequena e leve, eu sou feliz. Que tal o senhor trocar por uma menor? Pois não há necessidade de carregar um fardo tão grande e pesado.”
Mike olhou surpreso e percebeu que quando mais novo, não se apegava tanto as conchas e as trocava para sentir-se melhor. E há anos não permitia-se conhecer o novo, o diferente, o mais leve.
Mike trocou de concha e voltou a ser o ermitão que sempre fora, graças ao olhar de uma linda inocência.


Priscila Pereira

Você já esteve em Lost City?

Era uma vez uma cidade conhecida como Lost City, que ficava num povoado muito, muito distante daqui. Em Lost City, para evitar que os moradores se perdessem, ou, o que era ainda pior, perdessem a hora, havia muitas relojoarias. Dentre tantas, uma se destacava pela quantidade e diversidade de relógios.

Organizados um a um nas prateleiras, onde reluziam feixes coloridos de luz, de tão bem cuidados que eram, um relógio buscava seu espaço em meio aos demais. Tic... tac...tic...tac...ele resmungava. E todos os dias era a mesma agonia. Clientes entravam e saíam da relojoaria e nada de chegar a sua vez...assim, ele continuava tic... tac... tic... tac... até que um dia, um dos ponteiros, cansado de tantas lamentações durante seu trabalho disse à máquina do relógio: - Hey, você! Já não aguento mais tanta mesmice! É tic..tac..tic..tac o dia todo! Até quando?

- Hã? Como assim? – diz a máquina ao espreguiçar-se - A nossa missão é contar o tempo, ué. O que mais podemos fazer? - Ah... sei lá...E se começássemos a contar o tempo das situações? Podemos por exemplo contar em quantos tic, tac’s a relojoaria fecha as portas. Que tal experimentarmos esta nova experiência?  - Perguntou o ponteiro.

Ao escutar a proposta, a máquina... Como toda máquina, vocês sabem... , analisou, ponderou, ensaiou como seria e depois de muito tic..tac..tic..tac... Respondeu: Ok! Eu aceito. Passados 7.286 (isso mesmo! sete mil duzentos e oitenta e seis!) tic..tac’s as portas da loja fecham e o inesperado acontece...ao invés do barulho repetitivo e ensurdecedor  dos tic...tac’s o que flutua pelo ar é uma bela canção formada à partir deste som....

Ao escutar a bela e doce melodia, aquele relógio, que entre tantos outros buscava seu lugar nas prateleiras, nem sequer lembrava-se da angústia que o afligiu durante tanto tempo. Na manhã do dia seguinte, foi escolhido e escolheu pertencer ao primeiro cliente que entrou na loja...Percorreu o mundo adiantando, atrasando e lembrando compromissos, sem nunca perder a hora das oportunidades, sendo assim....feliz até a próxima aventura...Quem continua?




quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pingo de Gente Grande

 
 
Um dia passeando por aí... Não deixava no meu rosto esconder...

Nascia quente e descia fria, cada lágrima escorrer...

Às vezes se confundia com a chuva, ou com água do chuveiro... assim ninguém percebia tamanho barulho aqui dentro...

Tinha sonho de gente grande... e eu era apenas um pingo de gente!!

Quando eu for grande... e por horas assim adormecia nas nuvens da minha imaginação...

Quando eu for grande...

Quase todos os dias essa frase ecoava em meu coração... Precisava ser grande para realizar os sonhos?

Até que um dia... esqueci de acordar e pelas nuvens ali me perdi...como se pudesse flutuar...

Era longe daqui, talvez quilômetros de distância, flutuava por imensas e pomposas nuvens de algodão, como se ali pudesse deixar cada lágrima escorrida por esse caminho...

Ali não existia espaço para a tristeza e percebi que em dado momento, estava sendo guiada por uma voz, que não emitia som... Uma voz que dizia simplesmente assim:

“Por onde andais, pelos caminhos que traçais... leve um pedacinho de mim e deixe outro seu...”.

Fui guiada por essa voz...

Vi cores de todos os tons... tentei abraçar e não consegui...

E a voz: “Por onde andais, pelos caminhos que traçais... leve um pedacinho de mim e deixe outro seu...”

Aqui ecoava e assim continuava a minha jornada...

Flutuei por lugares apertados, frios e gelados, escuros e claros...

De cada lugar tentei um pedacinho levar, e sentia um impulso que por ali eu me deixava guiar...

Até que um dia... numa dessas longas viagens da minha imaginação, percebi que o tempo não passava, aliás para que existe o tempo?

Alguém respondeu: “Pra medir sua vida em pedacinhos...”.

“Quem é você?”

“Sou sua consciência, estou o tempo inteiro com você, dia e noite, noite e dia...”.

“Você tem cobrado muito a minha presença e tenho estado bem longe do meu coração...”.

Sabe de uma coisa? “A maior distância que existe é entre a mente e o coração...”.

...

E aí percebi que essa viagem está ficando longa demais... e resolvi voltar...dessa vez por um outro caminho...

 
 
Assoprei nuvens escuras do caminho... clareei meu céu de azul cintilante, experimentei voar, porque asas eu criei e de tão grandes deixei me guiar pelo vento...seja para cima ou para baixo e me libertei ao cheiro da chuva...

Passei por altas montanhas e rastros de terra trouxe em meus pés...

Vi o rio cruzar com o mar. Bebi água de cachoeira e assim pude me transbordar...

Entrei em florestas antes não exploradas, conheci todos os tons de verdes...

Aprendi a cantar a melodia dos pássaros... Salivei com os sabores de todas as frutas...

Transpirei ao calor do sol... e esfriei à luz do luar...

“Por onde andei, por caminhos que tracei, deixo pedaço de mim”...

E levo a maior parte de você!!”
 
 
 
 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A sabedoria da mãe natureza

Era uma vez um lugar distante, e neste lugar havia uma floresta em período de muita seca. Lá, nesta floresta, existia um dragão que, muito irado com a falta de água, começou a cuspir várias bolas de fogo, o que fez com que a floresta começasse a ser consumida pelas chamas.

Conforme as chamas iam aumentando, várias vidas iam deixando de existir. A mãe natureza, vendo toda essa destruição pensou que precisava tomar uma atitude rapidamente antes que mais vidas fossem perdidas. Próximo a esta floresta existiam alguns lagos, mas, devido ao período de seca, os lagos estavam quase que sem nenhuma gota d'água.

Diante deste cenário e com muita coragem e confiança em sua sensibilidade, ela decide de qual lago irá retirar a água. Neste momento, o transforma em uma nuvem bem grande, que escurece todo o céu. Entre raios e trovões, e de forma bem precisa a nuvem se desfaz em chuva, apagando todo o incêndio e salvando as vidas da floresta.

Ao observar com atenção, a mãe natureza se surpreende ao ver o dragão dançando na chuva, afinal, o que ele mais queria era a água, para matar a sua sede. E assim, o dragão, toda a vida da floresta e a mãe natureza foram felizes para sempre. :-)


sábado, 13 de julho de 2013

A História de Muskil Gusha

Era uma vez, a menos de mil milhas daqui, um pobre lenhador viúvo que vivia com sua pequena filha.

Todos os dias costumava ir às montanhas cortar lenha que trazia para casa e que atava em feixes. Então, depois da primeira refeição, caminhava até o povoado mais próximo, onde vendia a lenha e descansava um pouco antes de voltar para casa.

Um dia, ao chegar em casa já muito tarde, a menina lhe disse:

- Pai, às vezes desejo que pudéssemos ter uma comida melhor, com mais fartura e variedade de coisas para comer.

- Está bem minha filha - falou o velho. Amanhã me levantarei mais cedo que de costume, irei mais longe nas montanhas, onde há mais madeira, e trarei uma quantidade de lenha muito maior. Chegarei em casa mais cedo, enfeixarei a lenha mais depressa, e irei ao povoado vendê-la para que possamos ter mais dinheiro. E lhe trarei toda espécie de coisas deliciosas para comer.

Na manhã seguinte, o lenhador se levantou antes da aurora e foi para as montanhas. Trabalhou arduamente cortando e empilhando lenha, que amarrou num enorme feixe e carregou nos ombros até sua cabana.
Quando chegou em casa, era muito cedo ainda. Colocou sua carga de lenha no chão e bateu à porta dizendo:

- Filha, filha, abre a porta, pois tenho fome e sede e preciso comer alguma coisa antes de ir ao mercado.
Mas a porta estava trancada. O lenhador estava tão cansado que deitou no chão e logo adormeceu profundamente, ao lado do feixe de lenha.

A menina, tendo se esquecido completamente da conversa da noite anterior, ainda dormia.

Horas depois, quando o lenhador acordou, o sol já estava alto, Bateu novamente à porta dizendo:

- Filha, filha, venha logo. Preciso comer alguma coisa e ir ao mercado vender a lenha, pois já é muito tarde do que costumo ir.

Mas, havendo esquecido completamente a conversa da noite anterior, a menina já havia se levantado, arrumara a casa e saíra para uma caminhada. Trancara a porta supondo, em seu esquecimento, que o pai ainda estivesse no povoado.

Então o lenhador pensou consigo:

- Já é tarde demais para ir ao povoado. Portanto, voltarei às montanhas e cortarei outro feixe de lenha, que trarei para casa e, assim, levarei ao mercado amanhã uma carga dobrada.

Durante todo aquele dia o velho trabalhou arduamente nas montanhas, cortando e enfeixando lenha.
Já era noite quando chegou em casa com a lenha nos ombros. Depositou o fardo atrás da casa, bateu à porta e disse:

- Filha, filha, abre a porta, pois estou cansado e não comi nada o dia inteiro. Tenho dupla carga de lenha que espero levar amanhã ao mercado. Preciso dormir bem esta noite para recuperar as forças.

Mas não houve resposta. A menina estava com muito sono ao chegar em ca-sa. Havia preparado sua comida e se deitara. A princípio ficara preocupada com a ausência do pai, mas concluiu que ele tinha resolvido passar a noite no povoado.

O lenhador, cansado, faminto e com sede, vendo que não podia entrar em casa, deitou-se mais uma vez ao lado dos fardos de lenha e adormeceu profundamente. Embora preocupado com o que pudesse ter acontecido à sua filha, não conseguiu manter-se acordado.

Na manhã seguinte, devido ao frio, à fome e ao cansaço, o lenhador acordou muito cedo, antes mesmo do dia clarear.

Sentou-se e olhou à sua volta, mas não podia ver nada.

Aconteceu uma coisa estranha. O lenhador pensou ouvir uma voz que dizia:

"Depressa! Depressa! Deixa a tua lenha e vem por aqui. Se necessitas muito e desejas pouco, terás um alimento delicioso".

O lenhador se levantou e caminhou em direção à voz. Andou e andou, mas nada encontrou.

Nunca havia sentido tanto frio, fome e cansaço do que naquele momento e além disso tudo, estava perdido.
Estivera cheio de esperança, mas isto não parecia tê-lo ajudado.

Ficou triste e sentiu vontade de chorar. Mas percebeu que chorar em nada o ajudaria.

Então, deitou-se e adormeceu. Logo acordou novamente, pois fazia muito frio e ele sentia demasiada fome para poder dormir.

Decidiu então narrar para si mesmo, como se fosse um conto, tudo o que lhe acontecera desde que a filha lhe dissera que desejava um tipo de comida diferente.

Assim que terminou sua história, pensou ouvir outra voz, vinda de cima, como se estivesse saindo do amanhecer que dizia:

- "Velho homem, que fazes aí sentado?"

- Estou me contando minha própria história - respondeu o lenhador.

- "E como é?" - perguntou a voz.

O velho repetiu sua narração.

- "Muito bem" - disse a voz. E então recomendou ao velho lenhador que fechasse os olhos e subisse, como se houvesse um degrau.

- Mas não vejo degrau algum - retrucou o velho.

- "Não importa. Faça como te digo" - ordenou a voz.

O velho fez o que lhe era indicado. Assim que fechou os olhos, encontrou-se de pé e, ao levantar o pé direito, sentiu que sob ele havia alguma coisa, como um degrau.

Começou a subir o que parecia ser uma escada. De repente a escada começou a se mover muito rapidamente, e a voz disse:

- "Não abra os olhos até que eu te indique".

Quase em seguida, a voz mandou que o velho abrisse os olhos.

Ao fazê-lo, viu que se encontrava em um lugar que parecia um deserto, com o sol queimante sobre sua cabeça.

Estava rodeado por montes e montes de pequenas pedras de todas as cores: vermelhas, verdes, azuis e brancas.

Parecia-lhe estar sozinho. Olhou em volta e não viu ninguém.

Nesse instante a voz recomeçou a falar:

- "Pega tantas pedras quanto puderes - disse - fecha os olhos e desce novamente os degraus".

O lenhador fez como lhe foi dito. E, quando a voz ordenou que abrisse novamente os olhos, encontrou-se diante da porta de sua própria casa.

Bateu à porta e sua filha atendeu. Ela lhe perguntou onde havia estado, e o pai lhe contou o que acontecera, embora a menina mal pudesse entender o que ele dizia, pois tudo parecia muito confuso.

Entraram em casa e compartilharam o último alimento que tinham: um punhado de tâmaras secas.

Quando terminaram, o velho pensou ouvir uma voz que novamente lhe falava, uma voz exatamente igual àquela que o mandara subir os degraus.

A voz disse:

- "Embora não o saibas, foste salvo por Mushkil Gusha. Lembra-te de que Mushkil Gusha está sempre aqui.
Assegura-te de que todas as quintas-feiras à noite comerá algumas tâmaras e darás outras a alguma pessoa necessitada, a quem contarás a história de Mushkil Gusha. Ou dê um presente em nome de Mushkil Gusha a alguém que ajude aos necessitados. Faça com que a história de Mushkil Gusha nunca seja esque-cida. Se assim o fizeres e se o mesmo for feito por aqueles a quem contares esta história, as pessoas que tiverem verdadeira necessi-dade encontrarão o seu caminho".

O lenhador colocou todas as pedras que trouxera num canto de sua pequena casa. Parecia muito com simples pedras e ele não soube o que fazer com elas.

No dia seguinte levou seus dois enormes feixes de lenha ao mercado e os vendeu facilmente por ótimo preço. Ao voltar para casa, levou para sua filha toda espécie de deliciosas iguarias que ela então jamais havia provado. E quando acaba-ram de comer, o velho lenhador falou:

- Agora vou lhe contar toda história de Mushkil Gusha. Mushkil Gusha é o dissipador de todas as dificuldades. Nossas dificuldades foram dissipadas por Mushkil Gusha e devemos sempre lembrar-nos disso.

Durante quase uma semana, o velho homem continuou como de costume. Ia às montanhas, trazia lenha, comia alguma coisa, levava a lenha ao mercado e a vendia. Sempre encontrava comprador, sem dificuldades.

Chegou então a quinta-feira seguinte e, como é comum entre os homens, o lenhador se esqueceu de repetir a história de Mushkil Gusha.

Nessa noite, já tarde, apagou-se o fogo na casa dos vizinhos do lenhador. Os vizinhos não tinham nada com que reacender o fogo. Foram à casa do lenhador e disseram:

- Vizinho, vizinho, por favor dê-nos fogo dessas suas maravilhosas lamparinas que vemos brilhar através da janela!

- Que lamparinas? - perguntou o lenhador.

- Venha aqui fora e verás! - responderam os vizinhos.

Então o lenhador saiu e viu, realmente, grande quantidade de luzes que, vindas de dentro, brilhavam através de sua janela.

Voltou para dentro de sua casa e viu que a luz se irradiava do monte de pedras que ele colocara em um canto. Mas os raios de luz eram frios e era impossível usá-los para acender fogo.

Tornou então a sair e disse:

- Sinto muito vizinhos, mas não tenho fogo! - e bateu-lhes a porta na cara. Os vizinhos ficaram aborrecidos e confusos e voltaram para casa resmungando. Mas aqui eles abandonam nossa história.

Rapidamente o lenhador e sua filha cobriram as brilhantes luzes com quantos panos encontraram, com medo de que alguém visse o tesouro que possuíam.

Na manhã seguinte, ao retirarem os panos, descobriram que as pedras eram gemas preciosas e luminosas.

Levaram-nas uma por uma, aos povoados vizinhos, onde as venderam por muito bom preço.
O lenhador decidiu, então, construir um esplêndido palácio para ele e sua filha. Escolheram um lugar justamente em frente ao castelo do rei de seu país. Em muito pouco tempo um magnífico edifício havia tomado forma.

Esse rei tinha uma filha que, um dia ao levantar-se de manhã, viu um castelo que parecia de fadas bem em frente ao de seu pai, e ficou muito surpresa.

Perguntou a seus servos:

- Quem construiu esse castelo? Que direito tem essa gente de fazer tal coisa tão perto de nossa moradia?
Os criados saíram e foram investigar. Voltaram e contaram à princesa a história, até onde eles conseguiram averiguar.

A princesa mandou chamar a filha do lenhador, pois estava muito zangada com ela. Mas, quando as duas meninas se conheceram e conversaram, logo se tornaram grandes amigas.

Começaram a encontrar-se todos os dias e iam nadar e brincar no regato que fora construído para a princesa por seu pai.

Alguns dias depois do primeiro encontro, a princesa tirou do pescoço um lindo e valioso colar e pendurou-o em uma árvore bem à margem do regato. Esqueceu-se de apanhá-lo ao sair da água e ao chegar em casa, supôs que o tivesse perdido. Repensando um pouco, a princesa convenceu-se de que a filha do lenhador havia roubado seu colar.

Contou então ao seu pai, que mandou prender o lenhador, confiscou-lhe o castelo e todos os bens que o lenhador possuía. O velho homem foi posto na prisão e sua filha foi internada num orfanato.

Como era costume naquele país, depois de certo tempo, o lenhador foi retirado do calabouço e levado para praça pública, acorrentado a um poste, com um cartaz dependurado no pescoço. No cartaz estava escrito: "Isto é o que acontece à-queles que roubam dos Reis".

A princípio as pessoas se juntavam em volta dele escarnecendo e atirando-lhe coisas. Ele se sentia muito infeliz.

Logo porém, como é comum entre os homens, todos se acostumaram a ver o velho ali sentado junto ao poste e quase nem reparavam nele. Às vezes, atiravam-lhe restos de comida e, às vezes, nem isso faziam.
Um dia ele ouviu alguém dizer que era tarde de quinta-feira. De súbito veio-lhe à mente o pensamento de que logo seria a Noite de Mushkil Gusha, o Dissipador de Todas as Dificuldades, de quem ele já havia se esquecido de comemorar há muito tempo.

No mesmo instante em que este pensamento lhe chegou à mente, um homem caridoso que por ali passava, atirou-lhe uma pequena moeda.

O lenhador chamou-o:

- Generoso amigo, você me deu dinheiro, que para nada me serve. Se, no entanto, sua generosidade for tanta para comprar uma ou duas tâmaras e vir sentar-se para comê-las comigo, eu lhe ficaria eternamente grato.

O homem foi e comprou algumas tâmaras. Sentaram-se e comeram-nas juntos. Quando terminaram, o lenhador contou-lhes a história de Mushkil Gusha.

- Acho que você deve estar louco! - disse o homem generoso.

Mas era uma pessoa bondosa que, por sua vez, enfrentava muitas dificuldades. Ao chegar em casa, naquela noite, verificou que todos os seus problemas haviam desaparecido. E isso fez com que começasse a pensar muito a respeito de Mushkil Gusha, mas aqui ele abandona nossa história.

Logo na manhã seguinte, a princesa voltou ao lugar onde se banhava. Quando ia entrar na água, viu algo que parecia ser o seu colar deitado no fundo do regato. No momento em que ia mergulhar para tentar recuperá-lo, espirrou, voltando a cabeça para trás. Viu então que o que tomara por seu colar era apenas seu reflexo na água. O colar estava pendurado no galho de árvore, onde o deixara havia muito tempo. Apanhando o colar a princesa correu à presença de seu pai e contou-lhe o que acontecera.

O rei ordenou que o lenhador fosse colocado em liberdade e que lhe fossem apresentadas desculpas públicas. A menina foi trazida do orfanato e todos viveram felizes para sempre.

Estes são alguns dos incidentes da história de Mushkil Gusha. É um conto muito longo e que nunca termina.
Tem muitas formas e algumas nem mesmo são chamadas de história de Mushkil Gusha e, por esse motivo, as pessoas não a reconhecem. Mas é por causa de Mushkil Gusha que sua história, em qualquer de suas formas, é lembrada por alguém, em algum lugar do mundo, dia e noite, onde quer que haja pessoas. Assim como sua história tem sempre sido contada, continuará o sendo para sempre.

Você quer repetir a história de Mushkil Gusha nas noites de quinta-feira e assim ajudar ao trabalho de Mushkil Gusha