quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O teu desenho no mural da minha história

Peguei lápis e papel. Precisava desenhar a minha história. Um rabisco que começou no verão e sobreviveu a todas as estações. Um traço inicial forte e retilíneo, que me bagunçou e fez acreditar ser a melhor entre as melhores desenhistas.

Estive tão conectada ao torpor do verão que não notei a chegada do outono. E junto com o vento forte que varria as folhas das árvores, perdi meu rabisco inicial.....

Sorte a minha haver mais lápis e papel. E como os frutos que amadurecem nesta estação, assim eu também amadureci meu traço....agora mais leve, com suaves curvas inspiradas pelo sopro de esperança que me trazia a cada sorriso, a cada olhar...

Madura e confiante ensaiei até algumas formas....que alcançaram tuas mãos mas que se calaram no silêncio do inverno....convite ao recolhimento e à busca da sensatez.

Despertei. Meus traços ganham forma e cor, como as flores que surgem com a primavera. Não entrego este desenho em tuas mãos porque elas estão ocupadas, apoiando meu traço. 

Gratidão.




segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Acima das nuvens

O dia é cinza, a temperatura é baixa, e pra onde quer que eu olhe observo pessoas correndo. Elas correm contra o relógio, correm contra suas angústias, correm para chegar a tempo em seu compromisso. Elas correm. Mesmo quando estão paradas.

Da janela de onde espio o mundo a velocidade do pensamento é maior que a velocidade do som...e a teia de conexões e conclusões que se forma pertence apenas a seu próprio autor, ainda que envolva outros personagens.

Hoje o dia é cinza, mas dessa janela de onde o espio há uma densa camada de nuvens que encobre a visão dos que correm lá embaixo.

Se pudessem observar o que há acima das nuvens veriam um dia lindo e claro de sol, onde a temperatura é amena e o compasso do tempo obedece ao compasso do coração.

Porque este, mesmo quando descompassado acerta o passo, e nos presenteia com o melhor caminho a seguir. Deixa o sol entrar....boa semana.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fim de dia

Era um dia qualquer, numa cidade conhecida por muitos. Como qualquer cidade, o dia seguia seu roteiro.

Essa história é uma história que em comum com as outras há um homem e uma mulher. 
Ele é vigoroso e se sente soberano. Pouco participa das atividades de sua cidade, prefere criar sua agenda conforme suas próprias vontades, mas está sempre a vista. Às vezes até influencia algumas decisões abruptas, guiadas por uma vontade explosiva, sem saber ou se dar conta, que algumas pessoas importam e tem o dia-a-dia interferido quando ele resolve, sem avisar ninguém, brincar seguindo suas próprias regras.
Ela é esplêndida e não sente como ele se demonstra ser aos outros, guarda inúmeros segredos de tantas pessoas, às vezes até sem saber, torna-se única confidente. É amante e testemunha de inúmeras histórias. Talvez por ser tão aparente e se mostrar cheia de fases. Fases em que percebe que os outros a procuram e não a veem, como se fosse invisível aos olhos daqueles que a procuram. Pensa consigo mesma como é que pode perceber olhares distantes, estar ali, no mesmo lugar e passar desapercebida?!

Pois bem... Nossos personagens se conheceram assim...

Todos os dias ele acorda bem cedo, percebe toda movimentação, a empolgação das pessoas e o ziguezaguear que os carros fazem pelas ruas. Encontra-se com alguns amigos pomposos e bate papo durante todo dia. Curtindo cada instante, adora parar para sentir a brisa sem acelerar seu próprio tempo...
Ela, radiante, ganha palco depois do expediente dele. Dança entre estrelas antigas, renomadas e reconhecidas, e nem por isso se sente, mesmo reconhecendo seu próprio encanto. Pois, ela aprendeu a ser quem ela acredita ser, dedicando-se a dança de todas as noites, fazendo companhia àqueles que desejam companhia.

Tudo corria como de costume, até que um belo dia, ela curiosa, tentando entender o que é que tanto as pessoas conversavam, murmurando no ouvido uma das outras. Enquanto ela se apresentava, lá do palco não podia ouvir e ler os lábios dos espectadores a meia luz. Assim, adentrando seu camarim decidiu que no outro dia chegaria mais cedo, pra dançar com todos e quem sabe também ouvir a conversa que rolava solta.

No dia seguinte, chegou cedo, e percebeu que as pessoas, muitas pessoas, ainda estavam pelas ruas e as coisas estavam diferentes do de costume. As cores das árvores mais vivas, podia enxergar além do que estava acostumada a ver, percebendo que a linha do horizonte era muito além. 
Atenta aos seus pensamentos e inquietações mal percebeu quando ele se aproximou, reluzente! Estavam os dois cara a cara e ela, surpresa, não sabia o que dizer. Era dele que todos comentavam, não só dele, mas deste encontro!
Ainda meio atrapalhada, ela levantou os olhos e percebeu que sua luz também havia mudado, estava mais forte! 
O olhar de todos os fitavam!!! Todas as pessoas admiravam aquele encontro e pareciam esquecer do que estavam fazendo, mudando a rotina, refazendo seus planos.
Como era possível somente ela não saber que o seu encontro, inesperado era esperado por todos? Ou seria uma espera surpreendente mesmo que para alguns fosse esperado?

Foi assim então que eles se conheceram e, aos poucos, ele passou a perceber que perto dela ele era mais luz e que, mudando sua rotina poderia ir se deitar um pouco mais tarde para pelo menos olhar em seus olhos. Já que tinham turnos opostos. Ela, ainda extasiada passou a chegar mais cedo para, pelo menos de longe ver e admirá-lo.

Há quem diga que eles se encontram por ai. Que ela pode ser e somente ser, contudo, sem o ser que ela condiz, alterando suas fases, perde-se em definição... Ele ainda se sente, mas só pode ser realmente visto e admirado junto dela e por ela interposto num eclipse!