Num Reino muito distante, mas não
tão distante, quanto o Reino de Godah, vivia um Rei. Tinha uma mente inquieta.
Quando soube que em breve
herdaria o maior reino da região de Muito Distante, decidiu conhecer todos os
outros reinos, até os da região Muito Perto, arquirrivais de seu Pai.
Disfarçou-se de padeiro, pois compreendeu que em uma coisa TODOS eram iguais,
TODOS precisavam alimentar-se. ‘Distancenses e Pertencenses’ gostavam de pães,
logo dos padeiros.
Por todos os reinos que passava na sua mente falava ‘como isso pode ser útil para deixar meu povo feliz’.
Aprendeu a dançar todas as músicas que achava ser útil, aprendeu a saborear
todos os pratos que achava ser útil, aprendeu a falar todas as línguas que
achava ser útil, aprendeu a negociar todas as coisas que achava ser útil.
Num dos invernos mais invernosos
recebeu a notícia de que chegara a hora de assumir o Reino.
Ao voltar, maravilhado percebeu
que todas as coisas que aprendera e achava ser útil para fazer seus súditos
felizes estavam também presentes em seu Reino. Como ninguém percebia?
Com essa incógnita em mente,
começou a olhar para cada um de seus súditos e percebeu que havia algo estranho
nos olhos deles. Correu para o alto de uma das torres de seu castelo para olhar-se
no espelho e averiguar se em seus olhos havia os fios de seda que enxergou no
seu povo.
Perplexo percebeu que era o único
com os olhos límpidos e começou a pensar como ele poderia ajudar o seu povo a
enxergar os belos tesouros que o reino possuia.
Saiu da sala dos espelhos e
correu para a cozinha e pôs para trabalhar suas belas mãos de padeiro. Como ele
queria fazer o maior pão de todos os reinos, precisou de ajuda. Começou pela
cozinheira real, depois a auxiliar, seguida de todos os moradores do Castelo. Cantarolavam
uma música única e muito fácil de aprender. Em breve todos os moradores do
reino seduzidos pela música e pelo cheiro do aroma doce no ar, se entregaram
aquela canção e juntos enrolaram a massa, prepararam o forno, assaram o pão e o
comeram.
Era uma noite como nunca haviam
visto, as estrelas no céu valsavam ao som daquela música. A lua tão bela
compartilhou os céus com toda espécie de cores e brilhos advindos dos fogos de
artifícios que pela primeira vez naquele Reino eram liberados para compor a
sinfonia da energia.
Naquela noite quando todos
olharam uns para os outros, perceberam que nunca haviam se visto. Perceberam
quão próximos daquele céu magnífico eram os seus olhos.
E cada olho era um UNIVERSO com
seus sóis, luas, cometas, planetas e estrelas! E em cada olhar iniciava-se uma
dança, a dança das seiscentas estrelas que juntas formavam a constelação
‘Primarions’.
Do alto da torre do poder o Rei
sentiu-se feliz e deixou-se cair para ser abraçado pelas estrelas.
Acordou com um beijo de sua mãe e
tia. Seu pai o aguardava com uma mesa farta de pães e juntos deliciaram-se num
belo café da manhã, no primeiro dia da primavera!