segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Um porto para partir

Da proa a vista é ampla e o vento é forte
Uma viagem em que quando partes eu chego
Viajantes atrasados para o começo.

Nesse mar de embaraços, seu riso é rastro e coube num espaço fotográfico,
Do laço criado, a lembrança de um abraço,
Onde cada linha do meu traço é uma tábua pro nosso barco, que se chama esquecimento.

Letras ao ar, como ondas no mar
Eu escrevo...
Escrevo pra remar, pra não me afogar,
E escrevo pra lembrar que é preciso continuar...

Que a tempestade seja teu melhor porto

E que a sabedoria da instabilidade cure teu riso torto.




sexta-feira, 6 de junho de 2014

“O cachorro e o menino”

Era uma vez um cachorro que tinha um menino. “Coooomo assim? Um cachorro que tinha um menino, ou um menino que tinha um cachorro?”. É isso mesmo que você ouviu: um cachorro tinha um menino. Era um cachorro imenso, indócil, muito abusado. Latia muito, comia demais, era desobediente, queria estar em todo lugar da casa, não se aquietava nunca. O menino era pequeno diante dele, e vivia por ele, era dominado pelo cachorro. Era seu servo.

Todos os dias – todos os dias – o menino acordava 30 min mais cedo para descer com o cachorro. Só depois tomava seu café e ia para a escola.

Quando o menino chegava em casa, o cachorro o recebia alegremente na porta do elevador, batendo as patas em sua barriga até derrubar seus cadernos, ansioso por um afago. O menino atendia ao cachorro antes mesmo de almoçar.

Enquanto fazia suas tarefas, o cachorro ficava do lado, lambendo as pernas do menino, chamando sua atenção. Ele se confundia, não sabendo se atendia primeiro ao cachorro ou às tarefas.

Após fazer a lição de casa, o menino descia para a quadra para jogar com seus amigos do prédio, mas o cachorro ia junto, correndo pela quadra, atrapalhando o futebol.

À noite ainda era pior, pois o cão não dormia, pulando em cima do garoto enquanto ele assistia a seu programa de esporte favorito.

Sua mãe reclamava que o garoto não lhe dava atenção, não conversava com ela. Sua irmã caçula chorava porque o menino não brincava com ela. Seu pai brigava com ele, ameaçando vender ou doar o cão.

O menino também estava cansado, muito cansado. O menino não dormia sem o cão; não comia sem o cão; não brincava sem o cão; não conversava sem o cão. O menino não vivia. O cão o dominava. O cão era seu dono.

De tanta raiva, o garoto passou a imaginar que a única solução seria se livrar do cão. Pensou que haveria dias em que sentiria saudades, mas a liberdade de não ter mais um cachorro para lhe dominar as horas o atraía, pois ele não achava meios de evitar o animal. Não havia como disciplinar o bicho, nem lhe dedicar apenas o tempo suficiente. Ele sempre queria mais, ele reivindicava todas as horas da criança. O menino bolou um ‘plano exclusão’, chegando a sentir certo prazer em imaginar o cão sozinho, abandonado em uma noite escura, bem longe de casa, em uma cidade vizinha, para que não achasse o caminho de volta. Pensou que, só aí, haveria descanso.

Sentou-se no sofá e o cachorro, claro, veio atrás. Naquele momento, já resguardado pela possibilidade imaginária de se livrar do animal, o menino olhou nos olhos marrons do cão, que lhe miravam com ternura. O bicho chegou perto, abaixou as orelhas, sentou-se aos pés do menino, lambeu-lhe as mãos. Menino e cachorro cruzaram os olhares. Foi então que o menino viu tudo. E da profundidade dos olhos do cachorro veio a compreensão. Naquele momento Gaspar compreendeu o que Rex estava fazendo por ele, o que a presença ostensiva do cachorro significava para ele. Percebeu então, pela primeira vez, que a solução não estava no cachorro, e sim nele mesmo. Então, Gaspar fez um gesto de carinho na cabeça de Rex.


 Wanda Lúcia Ramos da Silva – Turma Practitioner C, 2014 – SBPNL.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

De dentro da concha...

A seus olhos sou pequenina e indefesa...Me deixe sussurrar ao pé do seu ouvido e viaje comigo ao infinito através da melodia da eternidade.

Recolhida em minha proteção calcária consigo aperfeiçoar minha intuição e ampliar o alcance da minha visão...De onde estou agora nem mesmo sei distinguir o que é mar e o que é céu...tamanho é o azul que me invade.

E por falar em invasão...me defendi tanto à sua chegada que acabei por transformá-lo em meu bem mais precioso. E por querer-te tão bem, te embalarei no ritmo da maré, conhecendo-te e apreciando-te, entre idas e vindas...