quarta-feira, 31 de julho de 2013

A ostra Otra


Era uma vez, um molusco, mais especificamente uma ostra, mais especificamente ainda duas valvas, envoltas num ligamento elástico e cobertas por um manto mágico.

Certo dia um intruso se aproxima do que tinham de mais sagrado, a união. E para defender-se aciona seu manto que imediatamente aprisiona o intruso com madrepérola, formando uma jóia mais valorizada pelos humanos do que no mundo marinho.

Acontece que o que os humanos chamam de jóia é motivo de grande dor e sofrimento no mundo marinho, especificamente para os moluscos e nesse caso específico para a Ostra Otra.

Otra era uma ostra feliz, vivia há anos nas profundezas do mar e era reconhecida por não deixar que seres estranhos adentrasse seu interior. Era muito comum ouvi-la dizer para seus amigos ‘posso ensiná-lo a se proteger, mas não te proteger, pois cada um deve fazer por si’. E assim corria os dias, meses e anos, sem que Otra fosse atingida por qualquer fator externo. Suas amigas embora a ouvissem, não a escutavam e por vezes diziam ‘como você saberá se não experimentar?’ ‘Será que proteger-se é esconder-se?’ ‘Não viver o que as coisas do mar querem ensinar, não seria uma afronta ao intempestivo Poseidon?’

Certo dia refletia, aliás, pela primeira vez, sobre o que suas amigas cansavam de falar. ‘E se elas tiverem razão?’ ‘Como saberei a hora de me abrir? ‘Será que um dia vou me abrir de verdade?’ E num ímpeto forte, sentiu esvaziar-se, de um jeito que nunca havia sentindo. Como se uma sensação de dor e prazer a preenchesse. Ao mesmo tempo em que se esforçava para afastar-se da dor, um súbito prazer a preenchia. Num estado de êxtase percebeu que não estava só e que dentro de si crescia o objeto de todo aquele prazer... dor... prazer!

Pensou ‘como poderia sentir sensações tão díspares e complementares ao mesmo tempo?’ ‘É impossível?’. E naquele momento acordou de um sonho, que percebeu, arrebatador e escolheu viver na sua comunidade, partilhando de sensações intrínsecas as ostras produtivas.
 
por Rosemeire Benedita da Silva

 

 

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